domingo, 16 de dezembro de 2012

O meu novo romance

 


Acabadinho de ser dado à estampa, o meu novo romance, intitulado Diário escaldante de uma freira desregrada, é um íntimo, recheado e guloso relato do excitante quotidiano de uma carmelita ninfomaníaca e lésbica contado pela voz da sua desinibida vulva. Na clausura de um intransigente convento, ficamos a saber a onde levam os irrefreáveis, libertinos e libertadores desejos de Angélica, uma noviça sequiosa de prazeres carnais. Depois de iniciar nas suas devassas andanças a sua melhor amiga, Inocência, uma carmelita de dezassete aninhos, uma alminha totalmente ingénua e santa, completamente desconhecedora da anatomia do prazer, em pouco tempo as duas entregam-se a práticas libidinosas, aprontam trinta, quarente e sessenta e nove por uma linha. Juntas descobrem que a cunilíngua leva mais facilmente às portas dos céus que um ano inteiro de novenas, descobrem que o orgasmo é um deus que as resgata do tédio das orações, “o nosso salvador”, como elas o designam, “um salvador mais atencioso, gentil, regalador e divertido que aquele que a madre superiora insistentemente alude, levanta da Bíblia e põe a andar invisivelmente pelo lajedo do convento”. Com a ajuda de um iPhone, as duas realizam filmes de um pornografismo inexcedível, escaldantíssimo, extraordinário, mágico, algo seguramente sem precedentes na história da cinematografia, e tudo isto feito com um esmero, devoção e fervor religiosos.

Todavia, esta existência deliciosamente pecaminosa e imperturbável que levam dentro das quatro paredes da noviciaria, um lascivo, velado e insuspeito paraíso, depressa se vê transformada com a chegada de uma carmelita mulata, uma noviça de uma beleza celestial, um “anjo exótico”, que rapidamente descobrem ser hermafrodita. Mais não revelo.

Comprem o livro, e descubram como um convento de carmelitas, com muita vontade, desejo, apetite, excitação e inventividade, pode devir num éden de prazeres e delícias.



O Vaticano, como não podia deixar de ser, pois, como é consabido, faz sempre questão de ter a última palavra quando abordam os seus domínios, já condenou o livro. “Uma imperdoável impudícicia, uma intolerável afronta aos sagrados e imaculados valores da Santa Madre Igreja”, denunciou um dos membros da cúria romana. Eu, por mim, estou-me nas tintas para esse incurável intrometediço, completamente, e asseguro-lhes que a freira também.

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