Acabadinho de ser dado à estampa, o meu novo romance,
intitulado Diário escaldante de uma
freira desregrada, é um íntimo, recheado e guloso relato do excitante quotidiano
de uma carmelita ninfomaníaca e lésbica contado pela voz da sua desinibida vulva.
Na clausura de um intransigente convento, ficamos a saber a onde levam os irrefreáveis,
libertinos e libertadores desejos de Angélica, uma noviça sequiosa de prazeres
carnais. Depois de iniciar nas suas devassas andanças a sua melhor amiga, Inocência,
uma carmelita de dezassete aninhos, uma alminha totalmente ingénua e santa,
completamente desconhecedora da anatomia do prazer, em pouco tempo as duas
entregam-se a práticas libidinosas, aprontam trinta, quarente e sessenta e nove
por uma linha. Juntas descobrem que a cunilíngua leva mais facilmente às portas
dos céus que um ano inteiro de novenas, descobrem que o orgasmo é um deus que
as resgata do tédio das orações, “o nosso salvador”, como elas o designam, “um
salvador mais atencioso, gentil, regalador e divertido que aquele que a madre superiora
insistentemente alude, levanta da Bíblia e põe a andar invisivelmente pelo
lajedo do convento”. Com a ajuda de um iPhone, as duas realizam filmes de um
pornografismo inexcedível, escaldantíssimo, extraordinário, mágico, algo seguramente
sem precedentes na história da cinematografia, e tudo isto feito com um esmero,
devoção e fervor religiosos.
Todavia, esta existência deliciosamente pecaminosa e
imperturbável que levam dentro das quatro paredes da noviciaria, um lascivo,
velado e insuspeito paraíso, depressa se vê transformada com a chegada de uma carmelita
mulata, uma noviça de uma beleza celestial, um “anjo exótico”, que rapidamente
descobrem ser hermafrodita. Mais não revelo.
Comprem o livro, e descubram como um convento de carmelitas,
com muita vontade, desejo, apetite, excitação e inventividade, pode devir num éden
de prazeres e delícias.
O Vaticano, como não podia deixar de ser, pois, como é
consabido, faz sempre questão de ter a última palavra quando abordam os seus domínios,
já condenou o livro. “Uma imperdoável impudícicia, uma intolerável afronta aos
sagrados e imaculados valores da Santa Madre Igreja”, denunciou um dos membros
da cúria romana. Eu, por mim, estou-me nas tintas para esse incurável intrometediço,
completamente, e asseguro-lhes que a freira também.
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