Vésperas de Natal
todos os anos por esta
mesma altura
assalta-me sempre a
mesma dúvida:
o que oferecer à minha
filha?
ideias não faltam
visto que da sua mente elas jorram abundantemente.
o problema prende-se
com o erário doméstico:
se a minha colecção
numismática não fosse tão parca em euros
eu oferecia à minha filha uma boa parte do
recheio que o pai natal
– esse guru do
marketing esse mago do consumismo –
tem guardado nos vastos
armazéns que possui na lapónia.
há cinco anos dei-lhe
uma bicicleta “igual à da rita”
(ironia esplêndida
andou nela uma vez).
há quatro anos pus-lhe
no sapatinho
um belo par de
sapatilhas da Puma.
quando abriu a caixa
sussurrou um muito seco
“ que raio de coisa…”
no ano seguinte não sei
se minado
por algum resquício de
remorso do ano transacto
sondei-lhe minudentemente
magistralmente o âmago.
resultado: dia 25 logo
pela manhã tinha já enfiados
uns fabulosos patins em
linha Rollerblade
– melhores muito
melhores que os das ritas patrícias e joanas
(pelo menos aos
domingos rolam até se estafarem).
há dois anos embora
muito contra a minha vontade
lá lhe ofereci o tão
desejado Nintendo DS
que há meses vinha
sonhando ininterruptamente.
no ano passado
nunca uns olhos de pai
tinham visto tanto
brilho nuns olhos de filha.
a causa deste êxtase de
alegria
foi um computador
portátil Acer.
“és o melhor pai do
mundo” – disse num grito estrídulo.
este ano sinceramente não
vou despender
um único cêntimo
em PlayStations Nokias Barbies
e outros produtos
afínicos.
além do mais não quero
transformar o quarto
dela num museu do
brinquedo
ou numa sucursal da Toys "R" Us.
este natal vai ser diferente:
estou a pensar dar-lhe um presente.
dinismoura
2010
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